Actividades conjuntas no âmbito do CCREMP - ESML | UÉ : Conferências
Ana Telles [CESEM, UÉ]
Essay VIII, obra-chave da produção pianística de Christopher Bochmann
RESUMO
O idioma pianístico de Christopher Bochmann assenta numa técnica instrumental convencional, herdada da tradição pianística oitocentista, sendo forjado com base nas principais correntes estilísticas europeias da segunda metade do séc. XX, sobretudo sob a influência dos autores associados ao pós-serialismo, mas também dos compositores e obras da 2ª Escola de Viena, sem descurar experiências pontuais mas significativas no domínio do aleatorismo. A permeabilidade a uma sensibilidade neoclássica, estimulada provavelmente pelo contacto com Nadia Boulanger nos anos de formação, manteve-se ao longo dos anos e manifesta-se pontualmente, tanto no recurso a técnicas, géneros e formas do passado, como também, de maneira mais abrangente, numa constante busca de equilíbrio e proporcionalidade, transversal a todas as obras.
A partir de 1991, ano da composição de Essay VIII, para piano, inaugura-se a fase de maturidade do compositor, no que diz respeito à escrita para este instrumento, assente no que ele designa como “técnica única”. A significativa consistência desse idioma instrumental resulta, em grande medida, da síntese de elementos previamente explorados através da composição de Essay VIII, como se pretende demonstrar ao longo da presente comunicação.
Riccardo Wanke [CESEM]
SCULPTING SOUND: THE ECSTATIC-MATERIALIST PERSPECTIVE
A Shared Cross-Genre Perspective Found in Today’s Experimental Music Practices
RESUMO
Será apresentado um estudo sobre práticas musicais de vários géneros da música experimental contemporânea. A partir da constatação de convergências entre peças de compositores contemporâneos e artistas de música eletrónica independentes, e partindo do pressuposto de que estas semelhanças se devem à presença de uma compreensão do som como uma entidade material complexa (tal como foi proposto por Giacinto Scelsi e os espetralistas), se va a apresentar uma abordagem multifacetada na análise e sistematização destas correspondências. As obras que constroem o corpus principal deste estudo – de Georg Friedrich Haas, Bernhard Lang, Giovanni Verrando, Riccardo Nova, Pan Sonic, Ryoji Ikeda e Raime – provêm de diferentes géneros, como o pós-espetralismo, minimalismo, eletroacústica, eletrónica-glitch e dubstep. O trabalho orienta-se portanto tanto para o objeto (artístico) como para o sujeito (criador e recetor) incluindo análises das obras e pesquisas empíricas (inquéritos de escuta, e entrevistas aos compositores e intérpretes). O trabalho pretendem fundamentar uma perspetiva de cruzamento multi-género. Esta perspetiva sobre o som será definida como “extático-materialista” e baseia-se numa conceção partilhada de som, envolve uma compreensão específica do tempo e do espaço na criação e perceção musical, e –longe de ser um conceito auto-reflexivo – inclui componentes da experiência cultural e da prática de compositores, artistas e ouvintes. O som, na perspetiva extático-materialista, é o território comum entre criador e o recetor; onde ambos os participantes captam elementos materiais do som e a partir daí constroem os caminhos subjetivos na sua escuta (emotivos, analíticos, culturais). Por fim, este trabalho ilustra a forma como a visão multi-género pode ser aplicada a diferentes formas do conhecimento musical (didático, artístico e curatorial) através do uso de uma abordagem multimodal (sensorial-perceptiva, teórica, abstrata e histórica), com o objetivo de aproximar as práticas musicais experimentais de um público mais vasto.
Carlos Caires [CESEM | ESML]
Composição e informática musical: breve relato do percurso de um compositor na primeira pessoa
RESUMO
Nesta apresentação falarei sobre processos de composição e de obras instrumentais da minha autoria, e como prática composicional num modo acção/reflexão conduziu ao desenvolvimento de ferramentas informáticas para a composição.
Partindo de conceitos que facilmente podem ser relacionados com algumas práticas pós-seriais observadas Boulez, Ligeti, Berio, Donatoni entre outros, nos quais incluo o meu anterior professor de composição na Escola Superior de Música de Lisboa e actualmente professor nesta Universidade, Christopher Bochmann, aliados a diversos aspectos do pensamento e prática musical de Horacio Vaggione, irei mostrar como a minha música instrumental ou mista evoluiu ao longo dos últimos anos e como cheguei ao software de micromontagem IRIN nos seus mais recentes desenvolvimentos.